terça-feira

Vida de Caracol





Francisco Caetano, empresário no ramo dos caracóis





O lento percurso dos gastrópodes de um dos maiores importadores nacionais - do armazém à travessa









Francisco Caetano, 60 anos, é um empresário otimista, coisa rara nos tempos que correm. Proprietário da empresa de importação e exportação Francisco Conde, acredita que este é um ano particularmente bom. 


Para os caracóis, pelo menos. "As previsões são altas, espero vender cerca de 2 mil toneladas", diz, confiante. 


Na época forte de consumo de caracóis, entre abril e finais de agosto, os camiões chegam ao seu armazém, em Brejos de Azeitão, na Margem Sul, a um ritmo quase diário. Todas as madrugadas é preciso descarregar o material - isto é, os caracóis, que vêm de Marrocos - e, nas horas seguintes, pô-los a repousar na arca frigorífica. 




O turno da manhã começa às nove horas. E desde logo começa a seleção minuciosa das três espécies: teba pisana (os tradicionais caracóis), otalla latia (riscada, mais pequena e utilizada para cozer) e hélix aspersa (a caracoleta maior para grelhar e a mais cara das três espécies). 




Processo de escolha dos caracóis




Após esta "lupa" humana, que serve para detetar as cascas partidas, também se separam as caracoletas grandes das pequenas. 


Por fim, vão para a máquina, a fim de serem embaladas em sacos de um quilograma. 


Esta é a última tarefa que aqui se executa, antes de os caracóis seguirem para os clientes que, segundo diz Francisco Caetano, são de todo o País, de Vila do Bispo a Viana do Castelo. 




Em Lisboa, um dos clientes mais conhecidos é o Júlio dos Caracóis, na Rua Vale Formoso, número 140 B, chefiado por Vasco Rodrigues, filho do Júlio dos Caracóis. 


Há mais de 50 anos que são especialistas em caracóis, mantendo o segredo da confeção e as quantidades servidas. Sem reservas, Vasco Rodrigues diz que prefere os caracóis marroquinos aos nacionais: "Têm o dobro do tamanho", justifica.
Francisco possui dois armazéns: o de Brejos de Azeitão e o de Marrocos, em Belksiri, na zona de Gharb, liderado pelo filho mais novo de Francisco Caetano. 


A empresa tem, ainda, sete lojas de take-away (a primeira foi aberta em 1998, em Setúbal), três restaurantes e uma box no interior do Mercado.

Abastecedor da Região de Lisboa. Um "império" dedicado ao gastrópode que chega de longe porque, como explica o empresário, "não produzimos caracóis suficientes, em Portugal". Mas, revela, a melhor região para os apanhar é a de Santarém". 


A loja recordista desta empresa familiar fica no Barreiro, na Avenida Calouste Gulbenkian. No ano passado, só numa tarde, serviu 63 tachos com 20 quilos cada um. A média de um dia bom ronda os 45 ou 50 tachos. 


Aqui, em duas filas separadas, vendem-se caracóis ao quilo (vivos ou cozidos) e caracoleta grelhada. Quando se entra na cozinha, mais parece que se está numa pequena fábrica. Primeiro, os caracóis são lavados numa máquina que foi "inventada" por Nuno Caetano (o filho mais velho de Francisco Caetano, que se encarrega da gestão da cadeia de lojas) e, depois, vão ao lume, em tachos grandes. 


Falta a receita: juntam-se os ingredientes (sal, cebola, alho, knorr, malagueta e orégãos, não utilizam bacon) e, depois de levantar fervura, espera-se entre seis e dez minutos pela sua cozedura. 


Os tachos que saem dos 17 fogões (e que se enchem com 20 quilos cada um) estão, agora, prontos a serem servidos.






Artigo de Sandra Pinto na revista Visão.pt

Fotos: José Caria

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