Contra a doença vibroacústica
Quatro estudantes dos Açores venceram o Concurso de Jovens Cientistas com uma investigação sobre os efeitos dos sons de baixa frequência na glândula digestiva dos caracóis.
A explosão foi de alegria com lágrimas à mistura. Quando o júri anunciou que a equipa da Escola Secundária da Lagoa, nos Açores, era a grande vencedora do concurso da IV Mostra Nacional de Ciência, organizada pela Fundação da Juventude, com o Programa de Biomonitorização da Doença Vibroacústica, os jovens não cabiam em si de contentes. Seguiram-se os restantes premiados, na certeza de que todos os concorrentes se sentiam ganhadores. O facto de estarem ali, no Museu da Electricidade, naquele dia, com uma exposição pública tão grande, já foi um “verdadeiro prémio”, como muitos acentuaram.
A doença vibroacústica (DVA) não é não muito conhecida, mas afecta milhares de pessoas em todo o mundo. Causada pela exposição excessiva aos RBF (sons com frequências iguais ou inferiores a 500 hertz), dentro deste grupo incluem-se os infra-sons (menos de 20 Hz), que não se ouvem mas se sentem. E é extremamente difícil um ser humano não se encontrar exposto aos RBF, nos nossos dias, pois existem muitas fontes.
Os RBF têm consequências em todo o organismo e, apesar de a grande maioria não ser perceptível ao ouvido humano, o organismo reage quando é exposto, sobretudo no que concerne ao tecido conjuntivo, pois há um aumento da produção de colagénio pelas células deste tecido, que se vai depositar em diversas estruturas cardíacas.
A acumulação excessiva provoca o aumento de rigidez destas estruturas, afectando o sistema circulatório, o que leva a uma distribuição anormal de oxigénio pelo organismo, causando, entre muitas outras patologias, a epilepsia. O tempo de exposição determina os sinais e sintomas demonstrados pela população sujeita a ambientes com RBF, sendo tanto mais graves quanto maior o tempo de exposição.
O estudo dos jovens açorianos consistiu no desenvolvimento de um programa que permitiu biomonitorizar os efeitos desta doença em seres vivos no seu meio natural. Até agora, apenas foram realizados estudos da DVA utilizando animais (mamíferos) em meio laboratorial, o que confere a este projecto um carácter inovador e mais próximo da realidade. Com vista à biomonitorização em meio natural desta doença, seleccionou-se como bioindicador, para este trabalho, o Helix aspersa (o vulgar caracol de jardim) e, como biomarcador, a sua glândula digestiva. Tendo como base medições sonoras prévias, procedeu-se em quatro locais diferentes da ilha de São Miguel à recolha de espécimes aos quais foi removida a glândula digestiva, após o que se iniciou um procedimento histológico, para obter preparações definitivas de todas as amostras, de modo a poder analisar o tecido conjuntivo.
Os resultados obtidos neste projecto levam a concluir que o Helix aspersa é um bom bioindicador para futuras pesquisas relacionadas com a DVA, e que a sua glândula digestiva, especificamente o tecido conjuntivo presente, é um bom biomarcador de efeito para o problema em estudo, o que permitirá a intervenção precoce no desenvolvimento da patologia e, assim, prevenir os efeitos mais graves desta doença.
Fonte: Superinteressante
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