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Apenas três espécies de caracóis recebem a designação "controlée" de “escargot” |
Existem milhares de espécies de caracóis no mundo mas apenas três recebem a designação "controlée" de “escargot” : o Bourgogne ou Helix pomatia linné, o Petit Gris ou Helix aspersa e o Gros Gris ou Helix aspersa máxima.
Qualquer outra espécie, comestível que seja, deverá ser chamada por seu nome comum local ou nome científico, sem confundí-la com os escargots. O erro mais comum, atualmente, é chamar a Achatina fulica de escargot sem apontar claramente a distinção.
O homem consome caracóis desde a pré-história. Suas conchas são encontradas empilhadas junto a utensílios culinários em diversos sítios arqueológicos.
A palavra caracol vem da raiz que significa girar. Os Romanos os chamavam de helix devido à concha em espiral. Os gregos kocklos por sua concha, que levou a coquilla ou caracol em espanhol, que ao poucos gerou escargol na França do s. XIV, atualmente escargot.
Os Gregos relatam o consumo da carne dos caracóis e os romanos acreditavam que os escargots curavam a bebedeira e a indigestão, sendo receitados aos doentes do estômago. Seus navios os recolhiam na Espanha e Norte da África para vender aos patrícios. Os Catalães também acreditavam que este hors-d’oeuvre facilitava a digestão de pratos suculentos e pesados.
Os marinheiros portugueses e espanhóis os levavam a bordo em suas longas viagens como mantimento de carne fresca.
O escargot foi consagrado na culinária francesa em 1814 quando o príncipe de Talleyrand ofereceu ao Czar da Rússia, Alexandre I, um prato de escargots, que foi degustado com satisfação evidente. O consumo do escargot alcançava o requintado uso de talheres especiais, para prender a concha e extrair a iguaria guardada em seu interior.
O Animal e sua Representação
Animal de hábito noturno, sua atividade depende das condições climáticas. Ele se fecha para se proteger das condições adversas, podendo passar meses e até anos, neste estado de hibernação ou estivação.
O caracol é uma figura presente em variadas áreas da vida – na arquitetura, esculpido na fachada de grandes catedrais, na pintura, escultura, cerâmica, é cantado na música e louvado em poesia. Mundo afora, o caracol está na mesa, nas brincadeiras das crianças e nas lendas imaginárias. Figura.
Na mitologia, os Deuses do Olimpo se regalavam com esta iguaria, cuja concha figurava em ouro. Por ser hermafrodita representa a androginia nas esferas místicas.
Na religião é símbolo da ressurreição: o escargot que desaparece no inverno emerge da terra na Páscoa. Anuncia a volta do sol e a vida após as chuvas da primavera perfazendo o ciclo da vida e da morte.
Nos campos ele é símbolo de fecundidade, presságio de felicidade, calor e luz.
O Escargot Curandeiro
De Hipócrates a nossos dias, tanto a medicina quanto a farmácia encontraram nos escargots, a partir dos derivados desse molusco – muco, carne e concha, um aliado para aliviar males humanos, no tratamento dos diversos órgãos do corpo.
A lista de sintomas tratáveis é extensa e as fórmulas de preparação das receitas, também. Dizem os textos que, macerados e aplicados em compressas, os escargots eliminam a flacidez dos seios, fervidos servem de xarope para aflições pulmonares, crus eles curam úlcera e atuam como laxativos, protegem a voz dos cantores, e vivos eliminam verrugas e cicatrizam queimaduras.
O escargot secreta substâncias que protegem e regeneram a pele e já serviram de base para cosméticos franceses, no passado. Hoje, assistimos à volta do uso de componentes animais em poderosos preparados com finalidade cosmética e, dentre estes, está o derivado do escargot, a helicilina.