Samuel Henriques esteve sete anos nos pára-quedistas, em Tancos. Aproveitando a cessação do contrato, a vontade de montar um negócio e a busca por uma situação melhor da que lhe proporcionava o vencimento da Força Aérea, este ex-militar decidiu-se a criar caracóis, fixando para o primeiro ano uma meta que ronde as dez toneladas. A experiência piloto decorre neste momento no Peso (Santa Catarina).
A ideia de ser helicicultor (produtor de caracóis) surgiu por acaso quando, devido a um problema de saúde, o então pára-quedista esteve internado no hospital do Lumiar, antigo hospital da Força Aérea, entre Abril e Julho de 2013. Com tempo livre de sobra, Samuel Henriques fez abundantes pesquisas na Internet para a criação de caracóis, um projecto que o seu pai iniciara, sem sucesso, há 15 anos.
O seu primeiro projecto nesta área, iniciado em Setembro do ano passado, contava com um parque na freguesia de Salir de Matos, em que os caracóis eram alimentados só com produtos biológicos. “Mas não dava lucro porque demorava entre oito a 12 meses até o caracol ficar feito” contou.
Por isso, decidiu abandonar as boas intenções de criar um produto biológico e resolveu apostar numa farinha própria para alimentar caracóis. É que, no fim de contas, o mercado nacional não faz distinção entre os caracóis que são alimentados biologicamente e os que não o são. Por outro lado, ao reduzir o tempo de crescimento em um terço, consegue-se assim acelerar o processo de crescimento que passa a ser inferior a quatro meses.
A partir de Fevereiro deste ano o projecto ganhou, assim, nova forma. Samuel Henriques diz que objectivo passa agora por “perceber o quão rentável pode ser este negócio”. Um negócio que passa por comprar um lote inicial de caracóis pequenos, que depois crescem e se reproduzem. Para o fim deste mês, o helicicultor já prevê uma produção de oito toneladas destes moluscos.
Cada quilo de caracóis pode ser vendido a 2,50 euros no mercado nacional. Mas a aposta é na exportação, até porque “o mercado interno é difícil porque entra muito caracol de Marrocos com o qual é impossível competir” contou o empresário. Os preços que os produtores do Norte de África conseguem alcançar, “apesar de o caracol deles não ter tanta qualidade, são muitos mais baixos, visto que lá se praticam salários mais baixos também” disse.
A solução passa por exportar os caracóis para Espanha, Suíça, Itália e França.
“Potenciar os terrenos”
Inicialmente a ideia de Samuel Henriques era produzir morangos em regime de hidroponia com o apoio do PRODER, mas “não sabia como escoar 70 toneladas de morangos”, e entretanto os prazos para as candidaturas cessaram. O ex-militar sentia necessidade de “potenciar os terrenos” que possui no Peso (Santa Catarina) até porque ficou convencido que os caracóis “têm uma margem de lucro superior à dos morangos”. Por outro lado, o investimento inicial era reduzido, visto que já possuía “pequenas parcelas de terreno, água e as mangueiras” disse à Gazeta das Caldas.
Foi assim com muitas horas de trabalho dele próprio que conseguiu criar um habitat propício às espécies Helix Aspersa Maxima e Petis Gris.
Neste caso, o investimento foi reduzido, mas geralmente, para criar caracóis a céu aberto num terreno de 2500 m2 são precisos 10.000 euros. Em estufa já ronda os 60.000 euros, mas com a vantagem é que a estufa permite produzir ao longo de todo o ano.
Samuel Henriques explica que um investimento deste tipo, para ser rentável, necessita de um mínimo de meio hectare, que possibilita produzir dez toneladas de caracóis a cada quatro meses.
Artigo de Isaque Vicente in Gazeta das Caldas
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